segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Os trens de Serra: comprados pela internet


A pergunta do dia, hoje, é feita pela Folha de S.Paulo: "Você faria uma compra de R$ 500 milhões a partir de uma pesquisa de preços pela internet?" E continua: "e se a compra fosse de equipamentos tão complexos cuja descrição dos detalhes toma centenas de páginas?"


O governador do Estado e presidenciável tucano José Serra comprou. Em 2007, seu primeiro ano de governo, a partir de levantamento feito junto a vários outros fabricantes - Bombardier, CAF, Siemens, etc - ele adquiriu 16 trens da multinacional Alstom (sempre ela!) no valor de meio bilhão de reais, mediante mera pesquisa de preços (alguns eram até simples anúncios) na internet.


Agora, que o negócio está sendo denunciado, o Companhia do Metropolitano paulistana afirma que pesquisou preços comparando com as compras de trens por outras 13 cidades. Como não existem 13 cidades brasileiras com metrô comprando trens, as que serviram de "modelo" ao governo tucano devem ser do exterior, ou seja, sob outra moeda e outra realidade.


As razões para tal imbróglio? Tudo para não fazer licitação nova e continuar usando uma de 1992, cujas bases financeiras dos contratos de compra já nem fazem sentido. Afinal, passaram-se 17 anos. E, mudou tudo de lá para cá, tanto o cenário econômico nacional e internacional quanto, no caso do Brasil, até a moeda, que passou de cruzeiro para cruzado em 1994.


Empresa vendedora é acusada de pagar propina ao tucanato

Por isso os auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) insistem, com base na Lei das Licitações, que a compra não poderia ter sido feita dessa forma, mas sim mediante nova concorrência pública aberta pelo metrô, porque essa de 1992, pela legislação simplesmente caducou.


Vale lembrar que a Alstom está sob investigação da justiça na França e na Suíça, e pelo Ministério Público no Brasil, por suspeita de ter pago milhões de dólares em propina, em sucessivos subornos a políticos do PSDB e a autoridades do Estado de São Paulo nos governos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, em troca de contrato com estatais.


Um dos contratos sob suspeita foi feita exatamente com o metrô e para obtê-lo a Alstom teria pago R$ 13,5 milhões ao tucanato que governa São Paulo há 14,5 anos.


Passa o tempo, o assunto reaparece e, ainda que com fatos novos, desaparece da mídia, único lugar onde há denúncia, porque os governadores tucanos impedem a constituição de qualquer CPI na Assembléia Legislativa para apurar irregularidades. Serra invariavelmente considera manobra ou "kit" eleitoreiro do PT.


O que fica claro, cada vez mais, é que parece que essa Alstom botou uma pedra em cima do setor e, ad eternum terá garantida a compra de seus trens por governos tucanos de São Paulo sem novas licitações. Lamentável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário